34 anos. As vezes me sinto tão jovem, as vezes sinto que vivi mil vidas diferentes.
A verdade é que os últimos 7 anos têm sido uma tortura minha comigo mesma com a insistência no mestrado, em especial os últimos 4.
Na pandemia eu perdi completamente o tesão por esse trabalho e mesmo assim me mantive nele, esperando que algo fosse mudar. Foi muito difícil desde o início, com todas as adaptações, aulas, leituras absurdas.
Pra falar a verdade eu nunca quis fazer mestrado trabalhando. Nunca. Eu via alguns amigos fazendo e achava loucura o nível de stress que a pessoa ficava.
Mas achei que eu ia conseguir lidar, afinal eu tinha alguém ao meu lado que me ajudava. Tudo isso mudou na pandemia também. O relacionamento acabou, a ajuda também, e me vi mais sozinha do que nunca.
Minha família e amigos sempre me incentivaram e quiseram meu melhor e tentaram me ajudar de todas as formas possíveis. Até sentar do meu lado e ler um texto minha mãe leu. A Gigi leu o texto e fez observações. O João se sentava comigo para me manter focada. O Gianluca ficava no quarto só pra me fazer companhia.
Foram tantos sacrifícios, tantas festas sem poder ir, tantas visitas que devo às minhas irmãs e meus sobrinhos, tantas saídas com as amigas que não pude ir. Tantos sacrifícios.
E o maior sacrifício foi da minha saúde mental. Da minha inabilidade de notar que adoeci profundamente nesse processo. Que não é normal sentir dor física, ataque de ansiedade, tristeza profunda ao falar sobre algo. Perdi completamente o tesão anos atrás, mas mantive-me firme no meu propósito de completar o que comecei.
Assim foram-se os anos. Pós ano novo agora passei dias acordada escrevendo tentando entregar um produto final mínimo "passavel", algo que pudesse ser entregue. E assim o fiz, depositei. Alívio.
Tentei conversar com meu orientador e tivemos a mesma conversa de sempre, o que me fez perceber que mesmo com a cabeça em jogo ele não ia me ajudar, não ia nem ler o que produzi. Só achou pouco e é isso.
Tirei férias, fui pro sítio ver meu pai e os primeiros dias fiquei no computador. Depois desisti e fui ficar com ele e resolver tudo que precisava resolver. Ele está morando no interior e estamos nos vendo muito pouco, não queria passar meu tempo lá presa na frente de uma tela. Mais umas férias sem descansar.
O pior é a sensação de que sempre estou devendo algo e que não posso, não devo, descansar. São 5 anos sem férias decentes, sem tempo de ócio, sem poder pensar de fato no que quero pra minha vida e carreira porque tudo ficou preso ao tempo futuro pós mestrado.
E assim foi. Ontem recebi um áudio dele e notei que ele leu por cima o que escrevi e que não acha suficiente. Então que assim seja, não tenho uma dissertação.
Decidi desistir faltando o que parece nada. O que seria um mês a mais disso depois de tanto tempo? Mas a verdade é que ontem tentando escrever eu senti uma dor no meu peito e entendi, finalmente, que cheguei ao meu limite.
Eu não tenho mais o que dar nesse mestrado. Se fosse qualquer emprego eu teria corrido. Foi assim na minha anterior, eu notei que os ataques de ansiedade eram durante o expediente, que eu precisava correr de lá antes que arrumassem algum motivo para me mandar embora.
Não posso ficar sem trabalhar formalmente e sei que o mercado de trabalho é duro com quem sai dele. É difícil voltar. Foi difícil pra mim.
Eu hoje estou no auge do meu cansaço, com dor, suando frio a noite por conta dos remédios pra sinusite que atacou de novo. Antibiótico, corticoide, antialérgico, antiinflamatório. Tome remédio pra curar uma sinusite crônica.
Mas não quero voltar a me medicar pra conseguir trabalhar. Não dá. Não é justo comigo. Eu sou muito mais do que isso.
E por mais que tenham sido muito sacrifícios e que pareça que cheguei muito longe pra desistir, eu não consigo mais prosseguir. Nem sozinha, nem com ajuda, simplesmente não consigo mais. Essa foi a jornada mais solitária da minha vida.
Aprendi muito sobre mim e sobre como sou resiliente. Mas também aprendi que eu preciso ouvir mais os sinais do meu corpo. Que não é sinal de fraqueza precisar de ajuda. Que não é sinal de fraqueza desistir formalmente de algo que há pelo menos 3 anos tem só me feito mal. E que eu fui prosseguindo falando pra mim mesma que o fim estava próximo e eu ainda não vejo um fim. Está mais claro do que nunca que não havia fim aqui, só uma placa de sem saída após uma longa estrada. Agora é prosseguir por outros caminhos, ter a liberdade de escolher o que fazer com meu tempo.
Eu não queria desistir porque eu aprendi que não podemos desistir nunca. Eu nunca fui a pessoa que para no meio do caminho. Mas esse caminho não existe pra mim faz tanto tempo, então por que insistir? Por que continuar me machucando, continuar investindo meu tempo em algo que não vejo sentido há tanto tempo?
Escrever isso aqui também é doloroso. Eu sinto no meu corpo o cansaço de anos e mais anos acumulados de tensão e ansiedade. Sinto a dificuldade que vai ser falar pras pessoas que o mestrado não terminou, que saio dessa mais ansiosa, depressiva, e sem título. Mas antes sair dessa viva do que continuar e me machucar ainda mais. Não quero mais tomar remédio pra conseguir escrever. Chega. Isso não é vida, não é saudável e não é o que quero pra mim.
Esse capítulo se encerra aqui, de uma forma ou de outra.